Sunday 16 May 2010

Doutor Gardenal no País das Maravilhas

Já conheci muita gente louca em minha vida e parece que quanto mais passa o tempo , mais essas pessoas são atraídas para o meu entorno... Não sei se sempre foi assim ou se só agora que estou percebendo melhor o mundo à minha volta. Muitas vezes me sinto um ET, Alien o oitavo ( nono, décimo, whatever) passageiro, mulher à beira de um ataque de nervos.Sabe aqueles momentos em que você se vê dentro de uma cena, que parece de um filme de arte daqueles quase incompreensíveis que do começo ao fim fica a pergunta... what the fuck? Nada contra esse tipo de filme, aliás meus amigos costumam dizer que eu tenho um gosto um tanto quanto duvidoso para filmes, pois em sua maioria são assim mesmo: os chamados filmes cult,de arte , ou sem pé nem cabeça...

Essa "loucura" muitas vezes veio caracterizada por frases ditas por tais indivíduos, por ações ou reações, ou por situações em que me vi envolvida com estas pessoas , digamos assim, no mínimo interessantes. Já tive a experiência, por exemplo, de estar no trânsito quando avistei um maluco beleza que enfiava a mão e o braço quase por completo adentrando os vidros dos motoristas com a única intenção de buzinar feito louco, pra logo depois correr na direção de outro carro da fila e fazer a mesma coisa. Claro que quando o avistei, comecei a levantar o vidro. Não deu tempo. Como se estivesse num filme, com aquela musica do filme do Kubrick (2001-Uma Odisséia no Espaço) de fundo me vi quase conseguindo fechar o vidro quando o maluco beleza rindo à toa começou a buzinar meu carro...e eu tentando explicar para o tal que não devia buzinar que o sinal tava fechado mesmo...aiaiaiai só eu mesmo pra conversar com maluco.

Teve ainda o doido que me fez um poema. Sim, ele era um maluco poeta. Estava eu esperando o bus que pegava todas as segundas feiras depois de uma longa viagem até Campinas, a caminho da Universidade onde fazia meu mestrado. Esta figura me viu de longe e sem mais delongas começou um versinho sobre meus olhos e a cor de meus cabelos. Quando ele acabou de falar o tal do versinho, perguntou se eu havia gostado e me disse que custava R$ 1,00. Isso, o versinho era pago!!! Na mesma hora falei que nao iria pagar e ele como artista muito indignado comentou em alto em bom som que nem todo mundo valorizava arte neste país...foi ficando nervoso, e eu também a ponto de quase chamar o guarda do outro lado da rua.. o dito cujo foi embora resmungando que só queria um " obrigado". No final, magoei o doido.

Uma dessa situações cômicas, aconteceu na sexta passada. Não poderia ser diferente, afinal era aniversário de nossa querida amiga Aninha, que reinventou a palavra "crazy". Nos reunimos num PUB com característica bem londrina, geralmente freqüentado por todo tipo de gente. Quero dizer TODO tipo de gente MESMO. Tinha de tudo: estrangeiros com uma morena no pé deles tentando arranhar o inglês, os caras matando cachorro a grito e a pontapés atirando para todos os lados e para ambos os sexos, solteironas e solteirões mal vestidos, recém divorciados, os casados ( cujas mulheres os seguravam passando a mensagem silenciosa “esse é meu!”, o advogado gorducho vestindo terno e cachecol branco ( pasmem!) circulando no local com um whisky "neat" , se achando o galã, o cara que era muiiito gato e seu amigo meia boca que iria tentar ficar com as sobras da noite, e tinha também a figura que mereceria destaque na noite: Doutor Gardenal.

Doutor Gardenal chegou no PUB ainda cedo. Vestia um raincoat estilo Casablanca, óculos escuros e cabelos, ou o que restava deles, cuidadosamente penteados para trás. Quando o vi imediatamente lembrei de Paulo Coelho. Era isso, ele parecia o Paulo Coelho. Meio decadente, querendo ser modernoso, cumprimentava as atendentes do bar com um longo abraço, e os rapazes com uma saudação. Entrou no PUB e foi falar com Deus e o mundo. Parecia ser freqüentador assíduo do local. Passeou, passeou e quando nos demos conta lá estava ele se apresentando para nossa mesa só de mulheres:


DG: Ora ora ora, mas que maravilha, que mesa mais florida, que coisa mais incrível e exuberante esta mesa só de moças lindas!
NÓS: ...( silêncio)
DG: Meu nome é ... e eu sou psiquiatra. Achei a mesa de vocês muito curiosa para uma análise, com mulheres de todos os tipos e idades e numa variedade...Posso me sentar e oferecer uma rodada de bebida para todas?
NÓS:...(silêncio)
DG: Vocês estão comemorando algo? Estão festejando?
Sua abordagem foi interrompida pela chegada de dois dos maridos das meninas da mesa e o Doutor que não sabia se sentava ou não, ainda ficou lá com cara de cachorro bobo, esperando jogarem o ocinho. Como ninguém jogou, saiu com o rabinho entre as pernas. Claro que depois disso ele foi o assunto da mesa, ninguém conseguia se conter em não comentar sobre a figura e a falta de noção nas atitudes dele. Não estou falando do fato dele ter nos abordado, pelo contrário, acho que foi ate bem educado, brega, mas educado. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi em sua atitude depois , mais tarde da balada.

Assim como todos os outros seres da madrugada que haviam se "transformado" durante a noite, ele também não foi diferente. Enquanto seu amigo, o advogado bonachão, trêbado, cantava " have you ever seen the rain" em alto e bom som, que parecia estar num karaokê.... Doutor Gardenal no meio da muvuca da pista de dança, de frente pra banda de rock , levantava os braços como que conduzisse uma orquestra. Aquele era seu momento catártico onde soltava pra o ar, o que era de verdade, o que pertencia a ele e somente a ele, uma loucura pessoal.....numa euforia, numa necessidade de atenção fora do comum. Sem medo algum de beirar o ridículo, dançava, cantava e pulava no meio da galera, que o ovacionava, e fazia rodas em volta dele e o acompanhava em seu êxtase!!!!!!

Senti estar num filme bizarro. Começando a acreditar mais do que nunca que de Médico e de Louco.....Todo mundo tem um pouco.

3 comments:

  1. kkkkkkkkkk...ADOREI!!!!
    Sabe que tb sou rodeada de louco...ou crazy, como preferir,mas um louco em especial passou em minha vida e foi deveras engraçado ou pitoresco... peço licença para contar:
    Estávamos em 1998, em Paris, mas precisamente num bar da Champs-Élysées, comemorando alguma vitória Brasil na copa, juntamente com meu marido e meu cunhado,qdo um louco, ou melhor um desequilibrado, ou melhor um insano,ou somente um bêbado, surgiu ao meu lado e chegando bem perto me lascou um beijo na face!!!!
    Seria trágico se não fosse cômico, haja vista a figura ser um MENDIGO!!! Isso mesmo, mendigo que simpaticamente meu marido o apelidou de o "barba" (imagine o tamanho)....
    Bom, passado o susto, tive que aguentar todo o resto da viagem as crises de risos, qdo nos lembrávamos do ataque do "barba" à fina brasileira em passagem pela França...kkkk
    O que consola é que pude até ser beijada por um mendigo, mas que falava o charmoso idioma francês!!!kkkkkkkk

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  2. Total Crazy!!! adorei sua historia Aninha!kkkkk muito boa mesmo!

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  3. Oie!!

    Bom, agora jamais esqueceremos este episódio do Dr. Gardenal...
    E eu perdi a cena final dele regendo a banda de rock... que pena!!!

    bjos

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