Tuesday 25 May 2010

Faxina

Papéis, papéis, papéis... por que será que a gente acumula tanto papel?

Minha vontade era de jogar tudo fora... sem pestanejar, sem nem ler o que estava escrito... principalmente porque eu tava com um medo danado de ler aquilo tudo de novo e ativar uma parte de minha memória já esquecida , ou melhor, meio que bloqueada por mim mesma... mas eu tenho mesmo que limpar isso, tenho mesmo que desocupar espaço , esse espaço que está ociosamente ocupado por papeis, papeis, papéis...

Comecei com a primeira caixa e me deparo com cartas, de minha mãe, minhas irmãs, meus amigos. Cartas, não emails, do tempo em que as pessoas ainda escreviam cartas a mão.. essas eu guardo, claro, ou não, deixa eu ver, ate que tem umas aqui que eu posso até jogar fora, de pessoas que nem são mais minhas amigas, de gente que já se foi, de um tempo que já se foi,.... quer saber, vou jogar fora algumas que posso considerar menos importantes..hummmm será?

Próxima caixa, textos, alguns já li, outros que nem toquei, outros que guardei pois na ultima vez prometi que iria lê-los.. lixo , não adianta, não vou ler mesmo esses... prefiro digital, eles devem estar em algum pendrive perdido pela casa... em alguma gaveta no passado.. aff agora tenho que achar o pendrive com o arquivo , que contem essa pasta que contem esse texto que fala desse assunto...deixa pra lá, vou criar um novo arquivo... esses textos devem estar ultrapassados mesmo e os que não estão em arquivo digital não devem ser tão importantes assim.

Terceira caixa, vamos lá, força você consegue, hoje é domingo, dia de fazer isso mesmo, faxina mental, emocional e material.. mentalize: " abra espaço para o novo.. abra espaço para o novo..." Vou colocar uma musiquinha pra relaxar... o que será que combina com Faxina? Uma amiga minha diria Fabio Junior.. mas não rola, vou colocar um rock... ai não dá, melhor um lounge. Pronto voltemos à faxina. Achei fotos, esquecidas de um tempo que não volta mais.... nossa como eu parecia mais nova nas fotos, meio boba, cara de menina e me achava tão madura, tão informada, tão tão... agora eu não acho é nada, os outros que acham de mim, e tá tudo bem mesmo assim, I dont know e I dont care. Aprendi que é só ligar o botão do foda-se que ta tudo resolvido. É ...o tempo passa... aiiiiiiii começo a odiar achar essas coisas...to numa mistura de emoções, que nem sei definir...Ok, vamos limitar isso aqui, vou dividir por categorias e jogar fora tudo que me lembra ex, ex amores, ex amigos, ex trabalhos, ex vida, bye bye farewell so long...

Next. Caixa com contas. Todas pagas graças a Deus. Quanto tempo se deve guardar conta de luz, água, telefone?? Quanto tempo preciso guardar comprovante de pagamento de condomínio, de aluguel? Fico com uma dor latente, mas não é no coração e sim no bolso, quando vejo o quanto eu gastei em minha vida nos últimos 5 anos pagando contas.Nossa melhor parar por aqui ou essa faxina vai me dar depressão.

Vamos à ultima caixa. Vazia. Como assim vazia???? Eu guardando esse tempo todo uma caixa VAZIA??? Destino: Lixo. Não vou dar a chance nem o espaço pra preenchê-la com bobagens que não vão fazer a mínima diferença em minha vida e que em muito pouco tempo nem farão sentido. Começo a ver que a gente só guarda o que quer mesmo tanto nas caixas de papel como em nossas gavetas de memória. Vou aprender a filtrar mais, a guardar só o que quero lembrar, o que vale a pena lembrar. Desenvolver minha Memória Seletiva.

Resultado matemático da faxina
5 caixas repletas de coisas inúteis= lixo.
Espaço do guarda roupa= vazio
Eu= leve como uma pluma e ainda curti um som
Abrir espaço para o novo em sua vida = Não tem preço!

Sunday 16 May 2010

Doutor Gardenal no País das Maravilhas

Já conheci muita gente louca em minha vida e parece que quanto mais passa o tempo , mais essas pessoas são atraídas para o meu entorno... Não sei se sempre foi assim ou se só agora que estou percebendo melhor o mundo à minha volta. Muitas vezes me sinto um ET, Alien o oitavo ( nono, décimo, whatever) passageiro, mulher à beira de um ataque de nervos.Sabe aqueles momentos em que você se vê dentro de uma cena, que parece de um filme de arte daqueles quase incompreensíveis que do começo ao fim fica a pergunta... what the fuck? Nada contra esse tipo de filme, aliás meus amigos costumam dizer que eu tenho um gosto um tanto quanto duvidoso para filmes, pois em sua maioria são assim mesmo: os chamados filmes cult,de arte , ou sem pé nem cabeça...

Essa "loucura" muitas vezes veio caracterizada por frases ditas por tais indivíduos, por ações ou reações, ou por situações em que me vi envolvida com estas pessoas , digamos assim, no mínimo interessantes. Já tive a experiência, por exemplo, de estar no trânsito quando avistei um maluco beleza que enfiava a mão e o braço quase por completo adentrando os vidros dos motoristas com a única intenção de buzinar feito louco, pra logo depois correr na direção de outro carro da fila e fazer a mesma coisa. Claro que quando o avistei, comecei a levantar o vidro. Não deu tempo. Como se estivesse num filme, com aquela musica do filme do Kubrick (2001-Uma Odisséia no Espaço) de fundo me vi quase conseguindo fechar o vidro quando o maluco beleza rindo à toa começou a buzinar meu carro...e eu tentando explicar para o tal que não devia buzinar que o sinal tava fechado mesmo...aiaiaiai só eu mesmo pra conversar com maluco.

Teve ainda o doido que me fez um poema. Sim, ele era um maluco poeta. Estava eu esperando o bus que pegava todas as segundas feiras depois de uma longa viagem até Campinas, a caminho da Universidade onde fazia meu mestrado. Esta figura me viu de longe e sem mais delongas começou um versinho sobre meus olhos e a cor de meus cabelos. Quando ele acabou de falar o tal do versinho, perguntou se eu havia gostado e me disse que custava R$ 1,00. Isso, o versinho era pago!!! Na mesma hora falei que nao iria pagar e ele como artista muito indignado comentou em alto em bom som que nem todo mundo valorizava arte neste país...foi ficando nervoso, e eu também a ponto de quase chamar o guarda do outro lado da rua.. o dito cujo foi embora resmungando que só queria um " obrigado". No final, magoei o doido.

Uma dessa situações cômicas, aconteceu na sexta passada. Não poderia ser diferente, afinal era aniversário de nossa querida amiga Aninha, que reinventou a palavra "crazy". Nos reunimos num PUB com característica bem londrina, geralmente freqüentado por todo tipo de gente. Quero dizer TODO tipo de gente MESMO. Tinha de tudo: estrangeiros com uma morena no pé deles tentando arranhar o inglês, os caras matando cachorro a grito e a pontapés atirando para todos os lados e para ambos os sexos, solteironas e solteirões mal vestidos, recém divorciados, os casados ( cujas mulheres os seguravam passando a mensagem silenciosa “esse é meu!”, o advogado gorducho vestindo terno e cachecol branco ( pasmem!) circulando no local com um whisky "neat" , se achando o galã, o cara que era muiiito gato e seu amigo meia boca que iria tentar ficar com as sobras da noite, e tinha também a figura que mereceria destaque na noite: Doutor Gardenal.

Doutor Gardenal chegou no PUB ainda cedo. Vestia um raincoat estilo Casablanca, óculos escuros e cabelos, ou o que restava deles, cuidadosamente penteados para trás. Quando o vi imediatamente lembrei de Paulo Coelho. Era isso, ele parecia o Paulo Coelho. Meio decadente, querendo ser modernoso, cumprimentava as atendentes do bar com um longo abraço, e os rapazes com uma saudação. Entrou no PUB e foi falar com Deus e o mundo. Parecia ser freqüentador assíduo do local. Passeou, passeou e quando nos demos conta lá estava ele se apresentando para nossa mesa só de mulheres:


DG: Ora ora ora, mas que maravilha, que mesa mais florida, que coisa mais incrível e exuberante esta mesa só de moças lindas!
NÓS: ...( silêncio)
DG: Meu nome é ... e eu sou psiquiatra. Achei a mesa de vocês muito curiosa para uma análise, com mulheres de todos os tipos e idades e numa variedade...Posso me sentar e oferecer uma rodada de bebida para todas?
NÓS:...(silêncio)
DG: Vocês estão comemorando algo? Estão festejando?
Sua abordagem foi interrompida pela chegada de dois dos maridos das meninas da mesa e o Doutor que não sabia se sentava ou não, ainda ficou lá com cara de cachorro bobo, esperando jogarem o ocinho. Como ninguém jogou, saiu com o rabinho entre as pernas. Claro que depois disso ele foi o assunto da mesa, ninguém conseguia se conter em não comentar sobre a figura e a falta de noção nas atitudes dele. Não estou falando do fato dele ter nos abordado, pelo contrário, acho que foi ate bem educado, brega, mas educado. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi em sua atitude depois , mais tarde da balada.

Assim como todos os outros seres da madrugada que haviam se "transformado" durante a noite, ele também não foi diferente. Enquanto seu amigo, o advogado bonachão, trêbado, cantava " have you ever seen the rain" em alto e bom som, que parecia estar num karaokê.... Doutor Gardenal no meio da muvuca da pista de dança, de frente pra banda de rock , levantava os braços como que conduzisse uma orquestra. Aquele era seu momento catártico onde soltava pra o ar, o que era de verdade, o que pertencia a ele e somente a ele, uma loucura pessoal.....numa euforia, numa necessidade de atenção fora do comum. Sem medo algum de beirar o ridículo, dançava, cantava e pulava no meio da galera, que o ovacionava, e fazia rodas em volta dele e o acompanhava em seu êxtase!!!!!!

Senti estar num filme bizarro. Começando a acreditar mais do que nunca que de Médico e de Louco.....Todo mundo tem um pouco.

Monday 3 May 2010

A princesa e o sapo boi

Se os contos de fada fossem escritos hoje em dia as histórias certamente seriam bem diferentes. A Branca de Neve por exemplo nunca abriria a porta pra uma senhora desconhecida muito menos aceitaria comer uma maça sem antes checar a procedência... Duvido muito que o príncipe ainda quisesse beijá-la depois que descobrisse que a mesma morasse com 7 anões... rs . Bela Adormecida jamais seria acordada de um coma (de 100 anos!) por um beijo de príncipe, hoje em dia ninguém espera nem um final de semana por alguém. A Cinderela certamente seria transformada por dois gays de algum reality show, iria pra balada, dançaria horas, beijaria vários bonitos e voltaria pra casa sozinha em seu carro próprio. Se perdesse o sapatinho ficaria muuuuiiiiiito chateada, afinal não é todo dia que se encontra o par perfeito de Manolo Blahniks.


Há muito tempo que paramos de procurar príncipes. Somos tão independentes, donas de nossos narizes e corpos. Fazemos de tudo sozinhas, temos trabalhos complicados, famílias que muitas vezes são sustentadas por nós, contas a pagar, pós graduações, mestrado, doutorado.... Os contos de fada contemporâneos se iniciam às avessas: príncipes viram sapos à luz do dia, isso quando chegamos a vê-los à luz do dia!

O nível de exigência baixou muito, e ouço por ai que devemos baixá-lo ainda mais se tivermos a esperança de encontrarmos alguém pra chamar de namorado. Paramos de escolher pra sermos escolhidas. Como colocadas numa prateleira de supermercado, cuja embalagem mais atraente "vende" mais. As roupas, o cabelo, os implantes nos seios e a maquiagem gritam: "pick me!". Agora nem precisa ser tão bonito, nem precisa ser tão rico, nem precisa ser tão inteligente, nem precisa pagar a conta...na verdade o nível de exigência baixou tanto hoje em dia, que basta que o cara te escolha, a tire da prateleira e faça a boa ação da noite te pegando. Que triste isso.

Não, não precisamos de príncipes. Queremos homens de verdade e não meninos de meia idade bancando o "lobo mau" na tentativa de atrair chapeuzinho vermelho...aqueles babacas que " se acham" tentando te pegar à força na balada, ou que vem com o mesmo papinho que usavam décadas atrás quando tinham 15 anos pra tentar te convencer a sair com eles. Enquanto nós baixamos nosso nível de exigência os homens elevam os deles. Todas mulheres que eles saem devem ter peitões siliconados e corpos perfeitos, serem boas de cama, independentes e pagarem a conta. De preferência nunca sequer cogitarem mencionar a palavra "compromisso" senão eles saem correndo em seus cavalos brancos. Literalmente.

Não, não precisamos de príncipes, queremos homens gentis. Não falo em pagar a conta, ou abrir a porta do carro, mas a gentileza em evitar comentar sobre suas conquistas sexuais não "notar" a gostosa da mesa ao lado e não ficar falando da ex e da pensão que tem que pagar pra dita cuja... Pior é que eles acham que estão com tudo, até a noite terminar com um beijo muito mal dado, na esperança ( dele) de ter sexo rápido e quase indolor.

O que aconteceu com o cortejar?

O flerte não existe mais, o sexo é medíocre , os dois pagam a conta, isso quando o abusado carinha não sugere que a mulher pague o motel. No dia seguinte ninguém se liga, nem se fala, ninguém se conhece. Somos a geração do “fast food- fast men”. Pra que tanto esforço, se você pode simplesmente chegar na balada e sair acompanhada facilmente por alguém que vai lhe fazer sentir feliz(?) durante alguns minutos - se você tiver sorte ( pasmem!) uma hora inteira.

Não , não precisamos de príncipes. Queremos romance. Ficar abraçado falando bobagem, aquele frio na barriga no começo do namoro, sonhar acordado juntos.

Continuo achando tolo tentar achar alguém tão perfeito a ponto de chamar de príncipe mas fica a pergunta:
Quantos sapos são necessários beijar até encontrar um que se transforme em homem?