Friday 26 March 2010

O Tempo

Ela tinha 79 anos, ele 13 anos a menos. Viveram um apaixonado romance e após haverem se conhecido no forró resolveram morar juntos, afinal ninguém era mais criança pra ficar namorando anos e anos... não havia porque perder tempo. Segundo ela, ele nunca a havia traído nesses alguns (poucos) meses de convivência, que para eles parecia muito mais tempo do que realmente fora - tempo para os mais avançados em idade, passa muito rápido e eles já haviam começado a contar quanto tempo ainda haveria para viverem juntos e apaixonados. Se o tempo dele acabasse antes, ela iria logo depois encontrá-lo na eternidade, se o contrario acontecesse, ele esperaria por sua vez e iria ao encontro dela. Ela por ser mais velha, sabia que seu tempo estava ficando escasso, e se preparava para o dia em que acontecesse o que nos preparamos a vida inteira para acontecer.

Só que um dia, ele pediu um tempo... um tempo pra pensar, pra saber mesmo se era isso que ele queria, não sabia se estava preparado para casar, para ter uma família, pois tinha sido um solteirão a vida toda. Diferente dela, que era viúva e que há muito tempo estava sozinha, pois os filhos haviam crescido e se multiplicado, cada um em uma cidade do Brasil. Quando ele fez essa proposta, ela se assustou, afinal havia ouvido isso antes de suas netas, desse "tempo" que os homens queriam dar de vez em quando, quando queriam sair com outras pessoas e ficarem solteiros. Ela, muito magoada, aceitou "dar um tempo" com a condição de que ele a procurasse em 1 semana para acertarem o que seria feito do romance. Ele inconformado e se sentindo extremamente pressionado a tomar uma decisão, afirmou que decididamente 1 semana seria muito pouco! afinal como ele colocaria sua cabeça no lugar em tão pouco tempo?! Ora respondeu ela, decidida , apesar de reticente, "não tenho tempo para dar um tempo,ou damos o tempo no meu tempo, ou você não terá mais nenhum minuto”.

Uma semana depois os dois apareceram na TV, ela muito triste, inconformada com a situação embaraçosa que ele lhe havia colocado. Segundo o jornalista, na mesma noite que terminaram o relacionamento, o namorado, que havia pedido um tempo, saiu da casa da namorada de mala e cuia e mais 9.000 reais (economias da namorada). Apesar do prejuízo, pelo "roubo" de suas economias guardadas durante bastante tempo, a senhora de 79 anos, que muito triste chorava diante das câmeras, não estava preocupada com o dinheiro. Com o tempo ela havia se acostumado a tudo na vida: sabia o que era a solidão, lembrava do tempo em que era casada, ou do tempo em que tinha amigos vivos para passar o tempo,lembrava do tempo em que havia dinheiro e do tempo da dificuldade. Entretanto, algo que nunca haviam lhe pedido, ou lhe tirado, ele havia feito.Ele havia feito ela perder tempo, seu mais precioso bem, o único bem que lhe restava. Havia lhe roubado mais tempo, pois durante o tempo que ele havia pedido, a pobre senhora havia esperado o tempo de 1 semana passar, sem ter vivido aquela semana. Não havia passado o tempo com suas amigas da dança de salão, nem com seus vizinhos de porta falando dos outros, nem tinha sequer assistido sua novela favorita, pois havia pensado nele o tempo todo.

O dinheiro foi devolvido, quase completamente, pois o namorado tinha ficado o tempo dele no bar e no bordel e havia gasto parte das economias da namorada. Foi preso e solto novamente. Não havia tempo para maiores dramas e não poderiam prender um homem que não teria tempo de pagar sua pena na cadeia. A namorada, saiu da delegacia abalada, porém sem perder tempo decidiu: voltaria à sua vida normal no tempo certo.

No dia seguinte, o tempo mudou, choveu muito e a senhora ligou para as amigas para um carteado. Passaram a chuva jogando cartas, e jogando conversa fora. No outro, foi visitar amigos em uma cidade próxima, gente que ela não via há muito tempo. Depois, chegaram os netos para passar o final de semana no interior, vinham de São Paulo e havia muitas novidades. Assim, o tempo foi passando, e como dizem que o bendito cura tudo, curou o coração doído daquela senhora, que se achava muito sem tempo de viver.

Um dia, aconteceu aquilo que nos preparamos a vida inteira para acontecer... ela se apaixonou novamente! E o novo amor, exigia muito de seu tempo, ele queria ficar com ela o tempo todo! E ela, muito generosa, e esquecida das feridas de um tempo passado, não teve mais tempo de ficar contando o tempo. Havia decidido vivê-lo, porque seu tempo é agora.

Tuesday 23 March 2010

"Bloguear" ou não , eis a questão...

Nunca me imaginei escrevendo um blog, mas de uns tempos pra cá comecei a sentir a necessidade de registrar histórias e acontecimentos que não quero esquecer. É como se escrever me desse uma "segurança" de que aquela história vai ser passada pra frente...que vai ser contada um dia. Estranho pacas isso.

Sempre gostei de ler, chega a ser uma compulsão. Consumo livros,revistas, folhetos, o que estiver em minha frente... meus olhos estão sempre procurando alguma coisa nova, alguma palavra intrigante, algum titulo interessante... às vezes me vejo na fila do supermercado tentando decifrar o que esta escrito nas capas das revistas, lá de longe do final da fila.(ridículo). Ah e a sensação de comprar um livro novo... ... aquele cheirinho de papel... huumm...adoro! arriscaria até a dizer que é tão bom quanto cheiro de carro novo, mas como a gente nao pode trocar de carro todo mês...

Já a paixão por escrever, bom,essa é mais recente, é aquele amorzinho que vai aparecendo bem devagar e quando você vê, já era, gamou! e não vive sem... não sei se veio com minha dissertação, ou com o hábito de escrever loooongos emails para minhas irmãs.

Acho que escrever esse blog vai servir como uma espécie de Catarse, uma forma de transmutar algo que esta dentro de mim, uma idéia, um sentimento em algo mais concreto. Passar do mundo das idéias para o mundo real...e claro trocar idéias, afinal qual é a graça de escrever só pra si mesmo!

Então... blogueio ou nao blogueio?