Saturday 24 April 2010

Virou espuma?

Que coisa incrível isso de não sentir mais nada por aquele que um dia se sentiu tudo... que estranho, triste, soberbo?! Coisa de gente grande, coisa de gente evoluída, superior... Será a evolução? Será porque nos esquecemos do que nos faz mal? Os tais filtros que ao mesmo tempo ajudam , atrapalham quando fazemos conjecturas em nossas vidas... Que julgam antes mesmo de se envolver, mas que depois que se envolvem, (putz!) esquecemos e começamos a filtrar junto com aquele alguém e começamos a julgar a partir de outros valores. Dos valores do outro.
Esta tarde imediatamente veio à minha cabeça aquele poema de Vinicius.. "E das bocas unidas fez-se a espuma, E das mãos espalmadas fez-se o espanto" viramos espuma? O que aconteceu com todo aquele amor, toda aquela paixão? Ficamos estranhos, não nos falamos. Nos transformamos em papéis, um grosso livro de autos judiciais que contam nossa história...sob o MEU ponto de vista, sob o SEU ponto de vista, sob o ponto de vista de quem nos conheceu... Porém, a verdade é que, bem na verdade, não me conheceram, nem lhe conheceram... Conheceram "o casal" e tal casal virou espuma, simples não?

Assim como o inicio de um amor é uma reação química, faz sentido que seu fim também o seja... O calor inicial, o coração apertado de saudade, o suor frio, as pernas bambas... Tudo isso vira: aquela emulsão de ar em moléculas que formam uma película que é chamada : Espuma!!!Agora deu pra entender?! O melhor é que se pode soprá-la e ela se dissipa bem rapidamente, assim como você hoje à minha frente.

Quase não te reconheci... mais uma vez, aquela imagem antiga que tinha de ti... foi se dissipando ao longo do tempo, ao longo de todas decepções...e hoje especialmente achei você muito magro,muito brega, muito feio, muito velho, muito triste, muito... PUFF!!!!!! Assoprei e voilá!!!! Que maravilha! Foi se dissipando...desaparecendo...e sumiu!!!
Exatamente como ESPUMA.

Friday 23 April 2010

Salve Jorge!

Religião e Fé são duas coisas BEM diferentes.
Conheço pessoas que apesar de irem à igreja todos os domingos, saberem a Bíblia de memória e cantarem todas aquelas canções, também usam seu tempo para falar de outros pelas costas, reparar no vestido da vizinha de banco de igreja e cochichar enquanto o pastor prega suas idéias. Uma contradição.

Na verdade a maioria das pessoas confunde a prática da religiosidade com fé. Ter fé é algo maior. É como acreditar em mágica. Em ilusão.Em algo que não se pode ver, nem tocar, nem mesmo definir... Gosto da definição abaixo, extraída de um site sobre a Biblia:

"Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem". - Hebreus 11:1

Acredito em certas coisas que leio na Bíblia (não em tudo)
Acredito em palavras belas proferidas por pessoas iluminadas, sejam estas bispos, padres, budistas, monges, freis, Hare Krishina...
Acredito em Deus e no poder da palavra que, quando bem utilizada, pode fazer milagres, fazer gente andar novamente, querer viver, sobreviver a um câncer...
Acredito em amizade verdadeira, daquelas que você daria um braço por alguém...
Acredito em amor verdadeiro,além da admiração
Acredito em saudade, de quem já foi e de quem ainda está aqui
Acredito em fantasmas camaradas, em seres iluminados, em santos guerreiros
Acredito em mim...

Muito do que acredito hoje veio de meus pais, dos valores que me passaram e do que compartilharam conosco. Sempre que recordo de meu pai, lembro de sua fé. Esta foi a maior herança que nos deixou.

Meu pai era um homem extremamente honesto e muito guerreiro, assim como São Jorge. Levava o santo de sua devoção em seu nome, assim como levou sua fé em Deus por toda sua vida. Carregava consigo, escrito com sua própria letra a oração abaixo e a lia todos os dias antes de sair de casa para o trabalho. Era como se a partir daí tivesse o escudo de São Jorge para se proteger e carregasse sua espada caso algum dragão aparecesse à sua frente.

Hoje, dia de seu santo de devoção, gostaria de homenageá-lo lembrando desta oração e passando-a a quem queira acreditar em seu poder. Eu acredito. Salve Jorge!

ORAÇÃO AO GLORIOSO SÃO JORGE
Peço diante do Pai Nosso Senhor, Deus, da Virgem Maria, minha Mãe, e dos doze apóstolos, meus irmãos. Andarei dias e noites eu e meu corpo, criado e colocado com os irmãos de São Jorge e meu corpo não será preso nem ferido, nem meu sangue derramado. Andarei tão livre como andou Jesus Cristo nove meses no ventre de Maria. Meus inimigos terão olhos e não me verão, terão boca e não me ofenderão, terão pés e não me alcançarão.
Quem trouxer esta oração consigo não temerá os inimigos, pois estará sob a proteção do glorioso São Jorge

Tuesday 13 April 2010

Ter ou não ter namorado

O título desse blog leva um pedaço de um dos poemas de Drummond. Aprendi com tais leituras a ver a vida de maneira menos prosaica e mais poética... Hoje no dia internacional do BEIJO nada mais apropriado ( além de beijar , é claro!) que ler esse lindíssimo e inspirador poema , um dos meus favoritos:

Ter ou não ter namorado

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabira, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado mesmo é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.

Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho.

Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar lagartixa e quem ama sem alegria.

Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar.

Não tem namorado quem não sabe dar o valor de mãos dadas, de carinho escondido na hora que passa o filme, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário.

Não tem namorado quem não gosta de dormir, fazer sesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor.

Não tem namorado quem não redescobre a criança e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.

Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar. Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.

Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado que confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo.

Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200Kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio.

Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido.

Wednesday 7 April 2010

Sr.M

O senhor M. freqüenta a mesma academia que eu.Apesar de ir todos os dias, só o vejo as terças e quintas quando o encontro no hall das esteiras enquanto religiosamente pago meus pecados do final de semana (e da semana...) correndo na esteira. Correr pra mim é uma atividade bastante prazerosa, aliás, fazer exercício é uma terapia pra mim,além se ser bem mais barata....bom, voltando ao senhor M. Ele sempre chega no mesmo horário e faz sua caminhada na mesma esteira, isso sem não antes esquecer de reclamar sobre algo, resmunga um bom dia quando aponta na recepção, e se direciona em seu andar, nada simpático, para a esteira de sua preferência. O problema, ou melhor, um dos problemas, é que nem sempre a tal esteira que ele gosta está disponível, às vezes tem um gatinho sarado correndo nela, as vezes tem uma gordinha tentando voltar ao peso de antes da gravidez... e "seu M". não se conforma, enquanto debaixo de humpfs e rrrrrrrrr a tal pessoa não mude de esteira ou simplesmente va embora com o rabinho entre as pernas, temerosa de que seu M. coloque toda sua fúria matutina em cima deste pobre coitado que só está tentando treinar. Logo após reservar sua própria esteira, Sr.M volta a sala de musculação para chamar algum professor, coitado, que naquele dia foi escolhido para ouvir os despejos e lamúrias da infeliz vida de um aposentado. Sim, Sr. M é aposentado, um antigo engenheiro que, muito bem entendido de sua profissão, reclama das instalações da academia, do ar condicionado, do vento, da falta dele, da janela, ora aberta ora fechada.

Ou seja, Sr. M é um reclamão.

Aprendo muito com o Sr. M: a não ser como ele, a não envelhecer como ele e o mais importante a nunca me casar com um homem assim!! Porque se ele é assim num ambiente relativamente público, imagine em casa.... vixe!

O engraçado é que num dia desses estava eu lá ouvindo meu rock, e tentando terminar os intermináveis kms que me prontifiquei a fazer quando vi Sr. M. conversando com um amigo, e notei como os dois eram diferentes... Enquanto Sr. M. reclama que tem uma menina na esteira dele, o outro (que não sei o nome, mas vamos chamar de Sr. Y) pega a esteira do lado, e começa a papear animadamente com a pessoa que lá estiver. Enquanto Sr. M. reclama da vida, da prestação do carro, da falta de educação nesse país, o Sr. Y fala da última viagem que fez a Cuba com sua mulher, e que fazia tempo que não via um dia tão agradável ( apesar de estar chovendo canivetes). A carranca do Sr. M faz dele um homem feio, diferente de seu amigo, que deve ser até mais velho ( passou dos 70 já), um homem que um dia deve ter sido muito bonito e feito o maior sucesso com as “pequenas” de sua época. Sr. Y malha pesado, anda com o peito estufado, cheio de orgulho de si mesmo, e não é nem um pouco metido, seu bom dia vem acompanhado de um sorriso, de um comentário engraçado e elegante.

O Sr. Y é a antítese do Sr. M. Um exemplo de que envelhecer bem é uma arte, mas viver bem é um exercício.